04 abril 2013

oitenta e oito


Da janela via-se o jardim com as suas árvores em flor, a relva muito verde e sempre bem tratada, as pequenas mesas com um tampo quadriculado onde se joga às damas e ao xadrez, os bancos corridos de madeira junto ao caminho de pedras e dois pequenos lagos com patos. Nos dias de maior calor dava a sensação de aquele ser um verdadeiro refúgio refrescante de natureza em pleno coração da cidade. E era nos dias de sol que mais claramente transparecia a felicidade estampada nos sorrisos de quem lá passeava. Todos os dias era possível encontrar os casais com os seus filhos, os velhotes nas pequenas mesas das damas e do xadrez, os adolescentes que fumavam às escondidas por trás do WC, os turistas de máquina fotográfica ao pescoço, e alguém a percorrer o jardim a toda a volta, em passo de corrida mais ou menos acelerado, parando de vez em quando para beber água no chafariz. Ao final da tarde era comum aparecerem os namorados, que se sentavam nos bancos corridos de madeira abraçados ou a olhar um para o outro, antecipando a chegada da noite com beijos, segredos e declarações de amor mais ou menos inocentes. Um a um, todos estes habitantes do jardim o abandonavam, já noite cerrada, até amanhã, até para a semana. No dia seguinte tudo se repetia.
Sim, da janela via-se o jardim e toda a sua vida. Mas isso era do lado de lá do portão.



inspiração: oitenta e sete

03042013
(pelo dia 27032013)

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