31 janeiro 2013

vinte e nove

foi o riso
é sempre o riso
vai sempre ser preciso que me faças rir desta maneira

foram os dedos
naquele dia os teus dedos
que se fizeram enredo com os meus desta maneira

foi de repente
tudo foi de repente
e é ponto assente que não podia ser de outra maneira



inspiração: vinte e oito

30012013

vinte e oito

foi o riso
sempre o riso
foi por ser tão fácil
foi por ser tão de repente
tão confortável



inspiração: Carta de Paris, Fausto

Carta De Paris by Fausto on Grooveshark

30012013

30 janeiro 2013

vinte e sete

(abre os olhos
lá fora é noite
o despertador insiste que já é manhã
a cama está quente, em flanela e edredon
mas o relógio diz que esse tempo acabou

a água corre
ferve, arde
lava o sono e os sonhos de uma vez
lava a cara e o corpo ainda cansado
e o relógio diz que o tempo já vai adiantado

pão torrado
manteiga fresca
o pequeno-almoço é tomado a correr
uma caneca de café com leite bebido de um trago
e o relógio ainda diz que o tempo é tão vago

o dia passa em alvoroço
entre o metro e o escritório e o almoço
a tarde já vai longa
a noite cai
o regresso a casa ainda vai tardar
e é quanto baste para naquele momento
ele suspirar)

acaba o dia
sai exausto
ao encontro do frio e do fumo e do trânsito
desaparece camuflado na multidão de gente
e o relógio não pára, manda o tempo ir em frente

abre a porta
e o sorriso
em casa há risos e está calor
cheira à comida já pronta do jantar
e ele diz ao relógio que o tempo ali não tem lugar

e à noite encontra o amor
numa cama de flanela e edredon
os filhos dormem descansados
a mulher sorri
é tempo de o tempo parar
e é quanto baste para naquele momento
ele suspirar



inspiração: vinte e quatro

29012013

27 janeiro 2013

vinte e seis

Há um espelho. A imagem que vejo não é necessariamente real. Talvez seja apenas a projecção de uma  ideia. Talvez essa ideia esteja errada.
O espelho reflete uma imagem que não reconheço. Talvez essa imagem esteja errada. Talvez essa imagem seja a real.


inspiração: enquanto espero

26012013

26 janeiro 2013

vinte e cinco

por uma longa estrada de alcatrão
inalterável na paisagem
segues um caminho até aí desconhecido
sabes o teu destino e isso basta
até chegares isso basta



inspiração: uma ideia parva tornada desafio

25012013

25 janeiro 2013

vinte e quatro

abre os olhos
lá fora é noite
mas o despertador insiste que já é manhã
a cama está quente, em flanela e edredon
mas o relógio diz que esse tempo acabou

a água corre
ferve, arde
lava o sono e os sonhos de uma vez
lava a cara e o corpo ainda cansado
e o relógio diz que o tempo já vai adiantado

pão torrado
manteiga fresca
o pequeno-almoço é tomado a correr
uma caneca de café com leite bebido de um trago
e o relógio ainda diz que o tempo é tão vago

o dia passa em alvoroço
entre o metro e o escritório e o almoço
a tarde já vai longa
a noite cai
o regresso a casa ainda vai tardar
e é quanto baste para naquele momento
ele suspirar



inspiração: uma letra inacabada (que continua inacabada)

24012013

23 janeiro 2013

vinte e três

entraste na minha casa
como se não fosse a primeira vez
como se tudo o que vês te fosse já tão familiar
percorreste o corredor
como se já soubesses onde ele vai dar
como se já conhecesses todas as divisões
como se já dominasses todos os cantos
os recantos mais sagrados deste meu lugar

entraste na minha casa
como se fosses dono e senhor
como o superior patrão desta propriedade
sentaste-te na poltrona
confortável e sem vaidade
como se tudo realmente fosse já teu
teu o tapete, tua a janela, teu o sofá
teu o serviço de chá, tua a minha vontade

entraste na minha vida
como se existisses desde o início
sem artifício, sem máscara, nada a esconder
instalaste-te nos meus dias
sem eu sequer me aperceber
e de repente tornaste-te inevitável
imprescindível em tudo o que acontece
e, ao que parece, era mesmo assim que tinha de ser



inspiração: insónia e "Teresinha"

23012013

vinte e dois

ela tem um sorriso aberto
a cabeça noutro sítio
os olhos em lado nenhum
o coração ausente


inspiração: vinte e um

22012013

22 janeiro 2013

vinte e um

ela tem a casa arrumada
a cabeça em desordem
o cabelo em desalinho
a vida em desalento


inspiração: sem inspiração

21012013

21 janeiro 2013

vinte

só consigo escrever escuro
preferia deixar a folha em branco
para que ninguém me visse transparente
esperar uns dias até haver sol
para me dar cor e me tornar opaca
para poder reflectir essa luz
como um espelho
ou um lago de água límpida


inspiração: sem vontade

20012013

19 janeiro 2013

dezanove

está escuro. vejo só as sombras das coisas. reconheço-as pelos contornos. adivinho-lhes as cores mas não as vejo realmente.

estás longe. vejo-te só ao fechar os olhos. como uma mancha. imagino as tuas expressões mas são só sombras desfocadas.


inspiração: o que me passa pela cabeça neste momento em que não tenho vontade nenhuma de escrever


19012013

dezoito

A chuva cai lá fora e cá dentro
Molha-me os ossos, a carne, os nervos
Fico encharcada e fria

O vento entra pelas janelas e pela pele
Enregela o sangue, congela os orgãos
Fico branca e roxa

O frio invade-me a casa e o corpo
Toma conta das minhas mãos e da minha cara
Fico gelada e morta


inspiração: o temporal lá fora

18012013

18 janeiro 2013

dezassete

a minha cabeça tem muitas janelas
nos dias em que elas permanecem fechadas fica tudo muito escuro e silencioso
é preciso abri-las para deixar entrar o ar fresco e deixar voar as borboletas


inspiração: sem inspiração

17012013

17 janeiro 2013

dezasseis

já era altura de andarmos em frente. de pegarmos na nossa vida, na nossa casa e em tudo o que tínhamos feito até aí, e de partirmos em direção a outra coisa. estava na hora de pegarmos nos dias e fazê-los nossos, de marcarmos as nossas horas, de fazermos nascer o nosso dia e a nossa noite.
já era altura de fazermos acontecer exatamente aquilo que queríamos, tal como queríamos, onde quer que fôssemos. estava na hora de estarmos à frente, de imaginarmos o caminho certo e de o seguirmos.

então pegámos na nossa vida, na nossa casa e em tudo o que tínhamos feito até aí e fomos.


inspiração: esta imagem, daqui















16012013

16 janeiro 2013

quinze

perdi o meu coração no meio da rua. foi distração... deixei-o num canto qualquer e nem reparei.
e na verdade só dei pela sua falta quando, ao chegar a casa, senti passar-me no peito uma corrente de ar.
saí a correr à sua procura mas já não te vi... já não o vi. foi em vão.
passaram os dias e eu quase sem respirar. a corrente de ar era cada vez maior.
imaginei o meu coração em pedaços por aí: no meio da calçada, pousado numa janela, pendurado num sinal de trânsito.
tentei ficar triste, esperei pela dor, mas no meu peito estava um buraco e eu não conseguia sentir nada.
num dia normal, ao atravessar a rua, vi-te passar. ias apressado e com ar preocupado, sem olhar para o chão. à procura de alguém.
tinhas na mão uma trela e, guiado por ela, o meu coração.


inspiração: corações nas passadeiras

15012013

catorze

deito-me e de repente é como se estivesses aqui
viro-me para o teu lado como se estivesses aqui
fecho os olhos para te ver como se estivesses aqui
durmo


inspiração: sono, frio e vazio

14012013

14 janeiro 2013

treze

A vida está cheia de coisas bonitas mas não consegues ver nada quando tens os olhos cheios de água.


inspiração: sem inspiração

13012013

13 janeiro 2013

doze

espera
desespera
espera... não esperes
imagina
sonha
sonha alto e grande
aproveita o sonho
vive o sonho
... a vida nunca vai corresponder.


inspiração: a realidade em tinto e vodka tónica

12012013

11 janeiro 2013

onze

nos dias em que tens vontade de ir dormir assim que acordas, levanta-te e abre as janelas. veste roupa bonita e põe flores no cabelo. põe o teu disco favorito a tocar. canta e dança sozinha pela casa. inspira-te e muda as coisas de sítio. lê. escreve. experimenta uma receita nova e faz uma limonada para acompanhar. sai de casa. vai até ao jardim e às lojas de antiguidades. vê um filme repetido. quando deres por ti, já serão horas de te ires deitar.


inspiração: em casa doente

11012012

dez

eu quero mais música.
eu quero mais voz.
eu quero mais sabores.
eu quero mais cores.
eu quero mais calor.
eu quero mais tempo.
eu quero mais vida.
eu quero mais sonho.
eu quero mais vontade.
eu quero mais perto.
eu quero mais vezes.
eu quero mais forte.
eu quero mais.


inspiração: a "futilidade" nos desejos para 2013

10012013

nove

Ela calça os sapatos de salto alto guardados há tanto tempo.
Ele veste aquela camisa perdida no fundo do armário.
Ela demora o dobro do tempo a pentear-se.
Ele enche-se de perfume mais do que é habitual.
Ela põe o batom vermelho que quase nunca usa.
Ele vê-se ao espelho três vezes antes de sair de casa.
Ela tem borboletas no estômago e o coração acelerado.
Ele tem o coração acelerado e um sorriso parvo colado na cara.
Ela está apaixonada.
Ele também.


inspiração: pai

09012013

08 janeiro 2013

oito

e do chão nasceram flores
nas fissuras das pedras
por cima dos azulejos coloridos
por entre os tacos de madeira

e onde houve loucura nasceram flores
onde se sentiu paixão e êxtase
onde se explodiu de raiva e de vingança
onde se chorou de tristeza e abandono

e onde se ouviram vozes nasceram flores
onde se ouviram risos e canções
onde se ouviram gritos e lamentos
onde se ouviu a vida acontecer


inspiração: Bloom at the Massachusets Mental Health Center, instalação de Anna Schuleit



08012013

sete

um bigode de gato e uma manta de bambis dourados
um candeeiro bordado e um buraco no teto
uma camisa pendurada à janela e uma correia partida
uma porta sem maçaneta e um vidro com tinta lascada


inspiração: brincadeiras de pessoas parvas

07012013

06 janeiro 2013

seis

fado bom
não é só quando é triste
nem só quando se canta a chorar
o meu coração está cansado de se lamentar
e pede que voltes para se alegrar

fado bom
não é só quando tem saudade
nem só quando o destino se quer vingar
o meu coração está cansado de se lamentar
e implora que voltes para eu dançar


inspiração: Sambinha bom, de Mallu Magalhães e uma ideia (im)possível




06012013

cinco

A estrada é longa e enquanto a percorres vais perdendo a noção do tempo. De um lado e de outro o infinito, deserto, planície a perder de vista. O sol de fim de tarde avermelha o céu no horizonte e enche a tua pele morena de brilho e sombras. Ao som da canção que o homem canta, uma lágrima desliza pela tua cara. Ele fala de ti mas não o sabe. Não te conhece. Quem te conhece? Tu sabes o que é certo e o que é errado. O que para ti é certo e errado. Mas o que faz o teu coração bater mais forte, a paixão, a aventura, o inesperado e o desconhecido puxam-te sempre para esta viagem. Para este caminho errado. Que é só uma ilusão. Mas tu sabes isso. Sabes isso de cada vez que os teus olhos pousam no fim dessa estrada que nunca acaba.


inspiração: On the road, o filme

05012013

05 janeiro 2013

quatro

Fecho os olhos. Entro em florestas negras e em jardins encantados. Vejo pegadas fundas de gigantes e sinto o leve bater de asas das borboletas. Ouço o vento, os pássaros, e hinos que anunciam outros tempos e outros mundos.


inspiração: Big Band do Hot Clube de Portugal

04012013

04 janeiro 2013

três

A gata borralheira dos nossos dias não tem madastra nem irmãs cruéis. E ainda assim cozinha, limpa a casa, lava a louça, estende a roupa, esfrega o chão. Vive sozinha e não tem empregada.

A gata borralheira dos nossos dias não tem fada madrinha que lhe transforme abóboras em carruagens. Anda de transportes públicos e quando soa o sino da meia noite, quebra-se o feitiço e tem de apanhar um táxi.

A gata borralheira dos nossos dias não tem sapatos de cristal. E andar de saltos altos só mesmo de vez em quando, que ninguém aguenta 7 dias por semana de calçada portuguesa.

A gata borralheira dos nossos dias não vai a bailes de príncipes que procuram noiva. Vai a concertos e ao cinema e vê séries deitada no sofá. Se tiver um príncipe ao lado, tanto melhor!



inspiração: o aspirador avariado numa casa cheia de pó!

03012013

02 janeiro 2013

dois

a casa cheira a manhãs de primavera, apesar de ser uma noite de inverno. ficava aqui bem uma chávena de chá, uma manta de retalhos e o gato enrolado na outra ponta do sofá. talvez amanhã.


inspiração: sem inspiração

02012013

01 janeiro 2013

um

acordaste num dia claro. as horas já eram poucas e deixavam-te no dilema de escolher entre o que o corpo precisa e o que o coração quer. tens sempre a ilusão de que se ficares muito quieta o tempo demora mais a passar. mas quando voltaste a olhar para o relógio viste que as poucas horas eram já quase nenhumas. apertaste com mais força essa ilusão contra o teu corpo ao mesmo tempo que o teu coração já se afastava. devagarinho. devagarinho. até que o dia ficou frio e tu ficaste sozinha.


inspiração: o dia de hoje

01012013