na rua da Condessa existe um mundo cor-de-rosa
onde vivem personagens como as dos contos de encantar
existe uma porta sempre aberta e alguém sempre a espreitar
e, do alto do seu 4º andar
ela sonha ser princesa
na rua da Condessa ninguém anda desencontrado
nem o rapaz com um olho para cada lado
que tem sempre alguma coisa interessante para contar
e, do alto do seu 4º andar
ela sonha ser princesa
na rua da Condessa todos fingem não saber nada
da mulher que chega sempre de madrugada
amanhã a velha à janela já vai ter do que falar
e, do alto do seu 4º andar
ela sonha ser princesa
na rua da Condessa que só anda num sentido
não há ninguém que passe despercebido
nem o vizinho de baixo que passa o dia a pintar
e, do alto do seu 4º andar
ela sonha ser princesa
todos os dias ela acorda numa cama de dossel
deita um olhar ao castelo e sorri
veste um vestido, prende o cabelo, põe o batom
e sai de casa com jeitos de princesa
como quem tem a certeza de que a rua é toda dela
(esta letra finalmente tem música! não é nova mas depois de quase 5h a olhar para ela, acho que merece vir para aqui)
05 dezembro 2013
27 novembro 2013
o (novo) caminho dela
Um dia ela parou e olhou para trás. Viu que tinha percorrido muitos quilómetros, mas por várias vezes tinha dado voltas e curvas e acabado por ir parar ao mesmo sítio. Viu que não estava muito longe do início, e o início já tinha sido há tanto tempo.
Naquele sítio ela viu todos os erros do caminho, os mapas enganados, os desvios mal assinalados, e surpreendeu-se por não ter percebido mais cedo que não ia chegar a lado nenhum.
Ela olhou em frente e viu enfim uma estrada bem iluminada. Viu os desvios mal assinalados, as curvas apertadas e os buracos no alcatrão. Respirou fundo e começou a andar.
inspiração: "Se não temos uma noção do que nos aconteceu no passado, não temos noção do que nos pode acontecer no futuro." - Tiago Cavaco
Naquele sítio ela viu todos os erros do caminho, os mapas enganados, os desvios mal assinalados, e surpreendeu-se por não ter percebido mais cedo que não ia chegar a lado nenhum.
Ela olhou em frente e viu enfim uma estrada bem iluminada. Viu os desvios mal assinalados, as curvas apertadas e os buracos no alcatrão. Respirou fundo e começou a andar.
inspiração: "Se não temos uma noção do que nos aconteceu no passado, não temos noção do que nos pode acontecer no futuro." - Tiago Cavaco
27112013
24 novembro 2013
30 anos e a eternidade pela frente
O tempo é uma coisa estranha. Sim, esta frase é um cliché. Mas em duas semanas a minha vida deu uma volta tão grande que quando olho para trás parece-me que passaram meses.
No dia 4 de novembro fiz 30 anos. Foi um verdadeiro choque para mim ver esse número tão redondo em grandes velas num bolo brigadeiro com que me presentearam ao almoço. Não quis soprar essas velas nem quis olhar para esse número. Na verdade não me queria ver com 30 anos e tanta coisa por resolver. Passei esse dia rodeada de pessoas que me amam muito. Ao final da noite senti-me mais tranquila mas ainda não feliz.
Uns dias depois, outra pessoa tomou por mim uma decisão que eu devia ter tido coragem de tomar há muito tempo, há tempo demais. Desde esse dia já senti dor, tristeza, raiva, esperança, alegria, paz. Tudo ao mesmo tempo e várias vezes ao dia. A melhor parte é que sinto o coração cheio como há muitos anos não sentia. Talvez até como nunca tinha sentido. Sinto também uma certeza de finalmente estar na direção certa, sabendo que a caminhada vai ser longa e que os passos terão de ser pequenos. E sinto esta certeza por finalmente perceber que tinha de passar pelo que passei, de tomar todas as decisões erradas que tomei, de enfiar fundo o pé na poça e sofrer as consequências. Perceber que tinha de cometer várias vezes os mesmos erros para me conhecer melhor e assim ter abertura para me melhorar.
O mais incrível de tudo isto é a forma como todos os últimos acontecimentos na minha vida se encaixaram para que não tivesse de iniciar este processo sozinha. Isso seria duro e não daria resultado. Já o tentei tantas vezes... A verdade é que finalmente todas as coisas se alinharam para que hoje pudesse estar onde estou: todas as minhas experiências, todas as decisões erradas, todas as chapadas na cara, e a ajuda das pessoas que nunca desistem de mim, o acolhimento de outras que ainda nem me conhecem, o amor incondicional de quem na verdade esteve sempre ao meu lado, mesmo quando eu não quis ver.
Sim, o tempo é uma coisa estranha. Hoje sento-me no meu mesmo sofá, na minha mesma casa, com o meu mesmo gato e o meu mesmo computador. Mas o lugar onde me encontro é totalmente outro!
No dia 4 de novembro fiz 30 anos. Foi um verdadeiro choque para mim ver esse número tão redondo em grandes velas num bolo brigadeiro com que me presentearam ao almoço. Não quis soprar essas velas nem quis olhar para esse número. Na verdade não me queria ver com 30 anos e tanta coisa por resolver. Passei esse dia rodeada de pessoas que me amam muito. Ao final da noite senti-me mais tranquila mas ainda não feliz.
Uns dias depois, outra pessoa tomou por mim uma decisão que eu devia ter tido coragem de tomar há muito tempo, há tempo demais. Desde esse dia já senti dor, tristeza, raiva, esperança, alegria, paz. Tudo ao mesmo tempo e várias vezes ao dia. A melhor parte é que sinto o coração cheio como há muitos anos não sentia. Talvez até como nunca tinha sentido. Sinto também uma certeza de finalmente estar na direção certa, sabendo que a caminhada vai ser longa e que os passos terão de ser pequenos. E sinto esta certeza por finalmente perceber que tinha de passar pelo que passei, de tomar todas as decisões erradas que tomei, de enfiar fundo o pé na poça e sofrer as consequências. Perceber que tinha de cometer várias vezes os mesmos erros para me conhecer melhor e assim ter abertura para me melhorar.
O mais incrível de tudo isto é a forma como todos os últimos acontecimentos na minha vida se encaixaram para que não tivesse de iniciar este processo sozinha. Isso seria duro e não daria resultado. Já o tentei tantas vezes... A verdade é que finalmente todas as coisas se alinharam para que hoje pudesse estar onde estou: todas as minhas experiências, todas as decisões erradas, todas as chapadas na cara, e a ajuda das pessoas que nunca desistem de mim, o acolhimento de outras que ainda nem me conhecem, o amor incondicional de quem na verdade esteve sempre ao meu lado, mesmo quando eu não quis ver.
Sim, o tempo é uma coisa estranha. Hoje sento-me no meu mesmo sofá, na minha mesma casa, com o meu mesmo gato e o meu mesmo computador. Mas o lugar onde me encontro é totalmente outro!
06 maio 2013
cento e quatro
Viveu tudo ao contrário. Primeiro os filhos, o casamento, a vida adulta, e só depois, muitos anos depois, os sonhos. Não por uma questão de escolha, mas porque a vida assim lhe foi acontecendo. Muito cedo aprendeu o significado de sacrifício e o que custa abdicar dos planos e dos anos que imaginara diferentes. Muito cedo aprendeu também que existe um amor superior a todas essas coisas. E ao longo desses anos em que esperou pacientemente pela sua vez, teve ao seu lado dois sorrisos que lhe amparavam todos os passos. Podia ter-se tornado uma pessoa conformada com a sua sorte. Mas como os sonhos só morrem no fim de tudo, agarrou-se à força dos seus dois sorrisos para finalmente voar do ninho até outro verão. E percebeu que a vida pode começar de novo sempre que se quiser. Enquanto houver força e uma vontade que queima. Enquanto houver inquietação e desejo de mais. Enquanto não houver resignação. E os seus dois sorrisos permanecerão ao seu lado.
inspiração: (dia da) mãe
inspiração: (dia da) mãe
05052013
30 abril 2013
cento e três
A minha memória daquela terra vem sempre acompanhada do calor sufocante do verão e do cheiro a figos, e por isso foi com estranheza que passeei sob um céu nublado, apertando o casaco contra o vento frio. Estranhei também ver que a rua tem nome e até placa - "Rua da Adega" - quando sempre a conheci como "a rua de nossa casa, a que vai até à estrada principal, de alcatrão". Essa rua já foi para mim muito longa e larga, e o que mais gostava nela eram as silvas que a ladeavam e de onde eu roubava mãos-cheias de amoras ao final da tarde, quando o sol já não era tão forte.
A meio da rua fica a casa da Rosário, cada vez mais velha e pequenina, mas sempre miúda. Fazem-lhe muita falta as cabras que já vendeu, e a mim fazem-me falta os queijos que deixou de fazer. Tem sempre por companhia um Carriço obediente (nunca teve um cão com outro nome), que a segue para todo o lado. Penso sempre se será esta a última vez que a vejo, e desejo sempre que não seja. O riso e o brilho dos olhos da Rosário fazem tanto parte daquele lugar como as casas, as oliveiras e as minhas recordações.
Entro em casa e vejo que, surpreendentemente, aguentou bem as chuvas deste inverno rigoroso. Tirando as teias de aranha e o leve cheiro a ratos mortos na loja, está quase exatamente como estava da última vez que lá fui (há quanto tempo terá sido?). Lá fora já não há caminho para a eira, só feno e ervas que crescem indiscriminadamente por ali. A avó diz que não é problema, que se arrancam facilmente. O tanque já não servirá para grande coisa, e a horta já desapareceu há muito. Mas o cheiro das flores é incrivelmente intenso e quase compensa a paisagem.
Quando lá voltar vai estar calor, e vou querer comer figos e maçarocas de milho assadas na fogueira. Vou querer refazer o trilho para a eira onde aprendi a jogar à Bisca, e deitar-me em cima do poço à noite para ver as estrelas. E de regresso, como hoje, hei-de ir visitar as pessoas mais queridas da minha memória, sentar-me junto delas e admirar as flores de plástico, dar-lhes um beijo e saudades, e deixar com elas esse passado até à próxima vez.
inspiração: Val da Couda
A meio da rua fica a casa da Rosário, cada vez mais velha e pequenina, mas sempre miúda. Fazem-lhe muita falta as cabras que já vendeu, e a mim fazem-me falta os queijos que deixou de fazer. Tem sempre por companhia um Carriço obediente (nunca teve um cão com outro nome), que a segue para todo o lado. Penso sempre se será esta a última vez que a vejo, e desejo sempre que não seja. O riso e o brilho dos olhos da Rosário fazem tanto parte daquele lugar como as casas, as oliveiras e as minhas recordações.
Entro em casa e vejo que, surpreendentemente, aguentou bem as chuvas deste inverno rigoroso. Tirando as teias de aranha e o leve cheiro a ratos mortos na loja, está quase exatamente como estava da última vez que lá fui (há quanto tempo terá sido?). Lá fora já não há caminho para a eira, só feno e ervas que crescem indiscriminadamente por ali. A avó diz que não é problema, que se arrancam facilmente. O tanque já não servirá para grande coisa, e a horta já desapareceu há muito. Mas o cheiro das flores é incrivelmente intenso e quase compensa a paisagem.
Quando lá voltar vai estar calor, e vou querer comer figos e maçarocas de milho assadas na fogueira. Vou querer refazer o trilho para a eira onde aprendi a jogar à Bisca, e deitar-me em cima do poço à noite para ver as estrelas. E de regresso, como hoje, hei-de ir visitar as pessoas mais queridas da minha memória, sentar-me junto delas e admirar as flores de plástico, dar-lhes um beijo e saudades, e deixar com elas esse passado até à próxima vez.
inspiração: Val da Couda
29042013
28 abril 2013
cento e dois
Andava sempre sem se preocupar com o seu destino. Deixava que outros pés a guiassem, enquanto olhava para o chão. Brincava com os desenhos da calçada: pisar só as pedras brancas, depois só as pretas, depois um pé sempre nas brancas e o outro sempre nas pretas. De vez em quando, num padrão mais complicado, demorava-se um ou dois segundos e logo sentia uma mão a puxá-la. Olhava para cima por instantes e seguia o jogo. Quando se cansava, olhava em volta. Via pernas e joelhos e, volta e meia, cruzava-se com outro par de olhos bem abertos. E sorria.
A caminho de casa, passava sempre junto a um longo muro cinzento. Por vezes encostava a mão à pedra para sentir a sua textura, mas era sempre repreendida. Numa típica manhã de primavera, daquelas em que o ar ainda fresco e o sol já forte cobrem o corpo com uma ligeira pele de galinha, ela parou subitamente em frente ao muro. A outra mão puxava-a pelo braço mas ela estava ancorada. Os olhos estupefactos e o sorriso a alargar-se até quase lhe ocupar todo o rosto. À sua frente, rompendo a seriedade daquele imenso bloco de pedra, uma pequena flor de pétalas brancas e amarelas sorria-lhe de volta. Com mais um puxão do braço foi obrigada a continuar a sua marcha, mas levou consigo o sorriso que aquela flor lhe deu.
Quando cresceu, especializou-se em botânica.
inspiração: pensar positivo
A caminho de casa, passava sempre junto a um longo muro cinzento. Por vezes encostava a mão à pedra para sentir a sua textura, mas era sempre repreendida. Numa típica manhã de primavera, daquelas em que o ar ainda fresco e o sol já forte cobrem o corpo com uma ligeira pele de galinha, ela parou subitamente em frente ao muro. A outra mão puxava-a pelo braço mas ela estava ancorada. Os olhos estupefactos e o sorriso a alargar-se até quase lhe ocupar todo o rosto. À sua frente, rompendo a seriedade daquele imenso bloco de pedra, uma pequena flor de pétalas brancas e amarelas sorria-lhe de volta. Com mais um puxão do braço foi obrigada a continuar a sua marcha, mas levou consigo o sorriso que aquela flor lhe deu.
Quando cresceu, especializou-se em botânica.
inspiração: pensar positivo
27042013
27 abril 2013
cento e um
os pés enterram-se na areia molhada. a água vai subindo até aos joelhos. até não se sentirem os ossos. gela. dói. até não se sentir mais nada. o vento assobia e confunde-se com o som das ondas. os olhos ao fundo. os pés gelados. o mar nos ossos. uma anestesia para todas as outras coisas.
inspiração: praia
inspiração: praia
26042013
26 abril 2013
cem
no primeiro dia senti-me livre. no segundo dia percebi que não ia ser tão fácil. no terceiro dia vi-me totalmente presa. e com o passar do tempo percebi que a liberdade da minha escolha era afinal uma faca de dois gumes. afinal, a liberdade que eu decidira ter e dar-te era também o que me aprisionava a esta condição de andar por aí de olhos tristes.
inspiração: a liberdade
inspiração: a liberdade
25042013
24 abril 2013
noventa e nove
os dias já são quentes, mas cá dentro continua frio. e percebes que ainda vais ter muitos dias tristes antes de poderes voltar a ser feliz.
inspiração: a casa fria (e o coração também)
inspiração: a casa fria (e o coração também)
24042013
22 abril 2013
noventa e oito
o sal dos seus olhos mistura-se com o do mar
e num instante toda ela é água
dilui-se na doçura das ondas
e depois disso
a paz
inspiração: noventa e seis, dor, alívio
e num instante toda ela é água
dilui-se na doçura das ondas
e depois disso
a paz
inspiração: noventa e seis, dor, alívio
22042013
noventa e sete
estou cheia de palavras
mas não falo
perdi a voz
só sai ar
mas não respiro
só consigo suspirar
vou reter a respiração
e fechar-me
só um dia
não quero que as minhas palavras se escapem
nem que se percam
preciso que elas saiam de rajada
ordenadas
no momento que eu quiser
inspiração: cabeça cheia e decisões tomadas
mas não falo
perdi a voz
só sai ar
mas não respiro
só consigo suspirar
vou reter a respiração
e fechar-me
só um dia
não quero que as minhas palavras se escapem
nem que se percam
preciso que elas saiam de rajada
ordenadas
no momento que eu quiser
inspiração: cabeça cheia e decisões tomadas
21042003
21 abril 2013
noventa e seis
Há vários dias que era noite. Caminhava pelo único caminho que conseguia distinguir no meio da paisagem escura. Não conseguia perceber o que a rodeava: árvores enormes e robustas, arranha-céus abandonados e sombrios, ou simplesmente o vazio. Talvez caminhasse por um desfiladeiro, não saberia dizer. Estava totalmente perdida. Não aguentava mais. Tinha chegado ao limite das forças. Não se reconhecia. Estava perdida e já não sabia quem era. Então chorou. Tinha chegado ao fim.
Abriu os olhos e viu, numa imagem deformada pela água, um horizonte. Talvez não fosse o melhor destino, mas correu. E sempre a correr, tirou a roupa e entrou no mar.
inspiração: decisões, metáforas, sono, Mad Men
20042013
noventa e cinco
eu costumava dizer que tinha deixado de acreditar no amor. mas isso nunca foi verdade. agora percebo que deixei de acreditar nas pessoas.
inspiração: corações partidos e conservados em álcool
19042013
19 abril 2013
noventa e quatro
Bastaria agora a minha cabeça no teu peito, e a minha respiração lentamente colar-se ao ritmo da tua pulsação.
inspiração: deitada. cansada.
inspiração: deitada. cansada.
18042013
18 abril 2013
noventa e três
Vai já longa a madrugada
no corpo intacto
o espírito em tormento
o coração em ruínas
a alma estilhaçada
quando o amor consome até não haver mais nada
Vem já perto a manhã
no corpo acordado
tudo o que resta adormecido
doente
dormente
como que morto
inspiração: insónia
no corpo intacto
o espírito em tormento
o coração em ruínas
a alma estilhaçada
quando o amor consome até não haver mais nada
Vem já perto a manhã
no corpo acordado
tudo o que resta adormecido
doente
dormente
como que morto
inspiração: insónia
17042013
(pelo dia 29032013)
noventa e dois
Ela saiu e subiu a rua sozinha. Atravessou a estrada por entre os carros sem se preocupar. Sente-se sempre protegida, de alguma maneira, na sua cidade. Sentou-se na paragem. Faltavam 8 minutos para o próximo autocarro e meia hora para o último. Afinal podia ter ficado mais tempo, mas agora pouca diferença fazia. Faltavam 4 minutos e ela nem deu conta do tempo passar. Faltavam 2 minutos quando apareceu um louco desgrenhado a falar sozinho ou com as caixas de cartão que trazia. Ela mal se apercebeu. Quando o autocarro chegou e abriu as portas foi a primeira a entrar. Os homens cederam-lhe passagem ainda que tivesse sido a última a chegar à paragem. Sentou-se num banco à janela, olhou para fora sem ver, e assim seguiu viagem.
Ao chegar a casa, sozinha, abriu a janela para o gato que apareceu a correr, miou por festas e foi deitar-se na cama. Ela deitou-se também e pensou: "ser uma mulher toda armada em forte e independente às vezes é uma merda!".
inspiração: a vida
17042013
Ao chegar a casa, sozinha, abriu a janela para o gato que apareceu a correr, miou por festas e foi deitar-se na cama. Ela deitou-se também e pensou: "ser uma mulher toda armada em forte e independente às vezes é uma merda!".
inspiração: a vida
17042013
10 abril 2013
noventa e um
- Wanna go out for dinner?
- Não percebi.
- What?
- Não te entendo!
- I don't speak portuguese!
- Eu não sei falar inglês!!
- Damn!
- (suspiro) Precisamos de um tradutor.
- What?
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "O casal sem tema de conversa"
- Não percebi.
- What?
- Não te entendo!
- I don't speak portuguese!
- Eu não sei falar inglês!!
- Damn!
- (suspiro) Precisamos de um tradutor.
- What?
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "O casal sem tema de conversa"
10042013
09 abril 2013
noventa
- ‘Tou?
- Olá.
- Então?
- ‘Tás bem?
- Sim, e tu?
- Também.
- Ok.
- Então?
- Hmm?
- Que contas?
- Nada de especial.
- Ok.
- E tu?
- Nada de mais.
- Pois.
- Pois.
- Falamos mais logo?
- Sim. Até logo.
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "O casal sem tema de conversa"
08042013
(pelo dia 28032013)
oitenta e nove
Trocam sms a caminho do trabalho e ao chegar, nas pausas do cigarro, durante o almoço, depois do café, na pausa do lanche, no trânsito. À hora de jantar nunca têm nada para dizer.
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "O casal sem tema de conversa"
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "O casal sem tema de conversa"
08042013
04 abril 2013
oitenta e oito
Da janela via-se o jardim com as suas árvores em flor, a relva muito verde e sempre bem tratada, as pequenas mesas com um tampo quadriculado onde se joga às damas e ao xadrez, os bancos corridos de madeira junto ao caminho de pedras e dois pequenos lagos com
patos. Nos dias de maior calor dava a sensação de aquele ser um verdadeiro refúgio refrescante de natureza em pleno coração da cidade. E era nos dias de sol que mais claramente transparecia a felicidade estampada nos sorrisos de quem lá
passeava. Todos os dias era possível encontrar os casais com os seus filhos, os velhotes nas pequenas mesas das damas e do xadrez, os adolescentes que fumavam às escondidas por trás do WC, os turistas de máquina fotográfica ao pescoço, e alguém a percorrer o jardim a toda a volta, em passo de corrida mais ou menos acelerado, parando de vez em quando para beber água no chafariz. Ao final da tarde era comum aparecerem os namorados, que se sentavam nos bancos corridos de madeira abraçados ou a olhar um para o outro, antecipando a chegada da noite com beijos, segredos e declarações de amor mais ou menos inocentes. Um a um, todos estes habitantes do jardim o abandonavam, já noite cerrada, até amanhã, até para a semana. No dia seguinte tudo se repetia.
Sim, da janela via-se o jardim e toda a sua vida. Mas isso era do lado de lá do portão.
inspiração: oitenta e sete
03042013
(pelo dia 27032013)
oitenta e sete
Da janela via-se o jardim com árvores em flor e um lago com patos. Os dias de sol faziam transparecer a felicidade nos sorrisos de quem lá passeava. Mas isso era do lado de lá do portão.
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "condomínio fechado"
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "condomínio fechado"
03042013
oitenta e seis
Naquela noite rodeou-se da família. Viu chegar os filhos, os netos e os bisnetos e recebeu-os a todos com um brilho nos olhos e um amor que outros talvez não notassem.
Naquela noite houve uma mesa cheia de doces, um grande bolo e champanhe. Mas também vinho tinto, pão e queijos. Não poderia ser de outra maneira.
Naquela noite celebrou-se a vida a que se devem todas aquelas outras vidas. De copo na mão, de sorriso aberto e com riso fácil, e de coração muito cheio.
inspiração: avô António
Naquela noite houve uma mesa cheia de doces, um grande bolo e champanhe. Mas também vinho tinto, pão e queijos. Não poderia ser de outra maneira.
Naquela noite celebrou-se a vida a que se devem todas aquelas outras vidas. De copo na mão, de sorriso aberto e com riso fácil, e de coração muito cheio.
inspiração: avô António
03042013
(pelo dia 25032013)
(pelo dia 25032013)
01 abril 2013
oitenta e cinco
Os olhos pesam e deixas-te ir. Agarrada à parte interior das pálpebras está a imagem da quinta em tons de cinzento escuro, o céu carregado de nuvens e a lua cheia, a casa fechada e sem luzes, a relva molhada. Sentes-te seguro no teu quarto, no calor da tua cama. Estás longe dessa história que não é tua, mas que talvez venha a invadir esta noite os teus sonhos.
inspiração: sono e As três vidas
inspiração: sono e As três vidas
31032013
27 março 2013
oitenta e quatro
ele deita-se na minha cama e dorme
ele deita-se ao meu lado e dorme
mas tem um sono breve
e tem o sono leve
acorda com um simples toqueele deita-se ao meu lado e dorme
mas não quer saber de mim
todas as noites é assim
e eu que me conforme
ele deita-se no meu peito e dorme
não faz barulho nenhum
ele não é de todo comum
e conquista-me com tanto charme
inspiração: Mel, o gato
26032013
24 março 2013
oitenta e três
it's nighttime
she sees it through the windows
she's so sad
and it's sad that only she knows
she's all alone
but that's what she has chosen
she wants a change
but for now she's just frozen
there's a life outside
but how can she decide
whether to stay or go?
she's frozen
she doesn't know what to do
she's crying
but she won't admit it's for you
she's tired
she wants to crawl back to sleep
it's nighttime
and now she's someone you can't keep
inspiração: oitenta e dois
24032013
(pelo dia 08032013)
oitenta e dois
it's nighttime
she sees it through the windows
she's so sad
and it's sad that only she knows
she's all alone
but that's what she has chosen
she wants a change
but for now she's just frozen
there's a life outside
but how can she decide
whether to stay or go?
inspiração: assignment 3 para o curso de songwriting
she sees it through the windows
she's so sad
and it's sad that only she knows
she's all alone
but that's what she has chosen
she wants a change
but for now she's just frozen
there's a life outside
but how can she decide
whether to stay or go?
inspiração: assignment 3 para o curso de songwriting
24032013
oitenta e um
Contrariando todas as expectativas, está sol. E se estiveres ao sol, está calor. Olhando para cima vês o céu azul, algumas nuvens brancas e a folhagem das árvores. Sim, dizem que a primavera chegou. Andas por estradas estreitas e sinuosas. Passas por casinhas brancas e por quintas que imaginas enormes e luxuosas. De vez em quando vês ao fundo o mar. Por mais voltas que dês não te cansas da paisagem, e por isso continuas. Paras junto à fonte dos amores, que guarda nela muitos passados. Sentas-te na cadeira de madeira e aprecias a vida que se forma à tua volta. Na varandinha, com o sol já a esconder-se por trás de nuvens cinzentas, sentes o vento frio, inspiras a maresia, e levas as mãos à barriga, como que a protegê-la. Suspiras e pensas: "assim vale a pena".
inspiração: um dia em Sintra
(para a Inês)
inspiração: um dia em Sintra
(para a Inês)
23032013
23 março 2013
oitenta
se eu pudesse apenas arrancar os cabelos, abrir a cabeça e mostrar-te o que acontece lá dentro... seria demais?
inspiração: sem inspiração
inspiração: sem inspiração
22032013
21 março 2013
setenta e nove
Ele vivia no sótão, com uma pequena janela que deixava ver o céu e as copas das árvores, mas não as pessoas que passavam na rua. Havia também uma cama, um pequeno sofá e alguns livros infantis. Todos os dias a mãe subia para lhe levar as refeições e o ensinar a ler, e o pai para conversar um pouco. À excepção destes, nunca ninguém soube da existência do Fernando.
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "segredo de família"
inspiração: desafio de escrita de microficção, com o tema "segredo de família"
21032013
setenta e oito
Ela adormeceu com o telefone encostado ao ouvido, embalada pelo silêncio dos quartos. Do outro lado já não estava ninguém.
inspiração: sono
inspiração: sono
20032013
setenta e sete
Os dias iam amontoando-se uns por cima dos outros, como páginas viradas de um livro que não tinha nada para contar.
inspiração: sem inspiração e sem vontade de escrever
inspiração: sem inspiração e sem vontade de escrever
19032013
19 março 2013
setenta e seis
a sua existência era feita de plasticina. e quanto mais a moldava, mais percebia que não iria conseguir voltar à sua forma original.
inspiração: sem inspiração
inspiração: sem inspiração
18032013
18 março 2013
setenta e cinco
the house is filled with shadows
all the rooms are dark
the closed windows don't let her see
it's springtime outside
in the trees the birds are singing
but she can only hear
the echo of her own footsteps inside
she's all alone
she's all alone
once again she's all alone
inspiração: sessenta e oito e assignment para o curso de songwriting
all the rooms are dark
the closed windows don't let her see
it's springtime outside
in the trees the birds are singing
but she can only hear
the echo of her own footsteps inside
she's all alone
she's all alone
once again she's all alone
inspiração: sessenta e oito e assignment para o curso de songwriting
17032013
setenta e quatro
yesterday I saw him
his smile was the same
we hugged for just a second
his smell was the same
I asked him how he's been
his voice was the same
he said that I looked pretty
and I felt the same
like the years hadn't passed us by
and nothing had changed
but so much time has passed us by
and everything has changed
and somehow everything is still the same
inspiração: exercício para o curso de songwriting
his smile was the same
we hugged for just a second
his smell was the same
I asked him how he's been
his voice was the same
he said that I looked pretty
and I felt the same
like the years hadn't passed us by
and nothing had changed
but so much time has passed us by
and everything has changed
and somehow everything is still the same
inspiração: exercício para o curso de songwriting
16032013
setenta e três
andas em frente. vais olhando em volta, esperando reconhecer alguma coisa. acreditas que, intuitivamente, vais perceber quando chegares ao teu destino. andas o dia todo, a noite inteira, até quase não conseguires manter os olhos abertos. de repente chegas ao fim do caminho. à tua frente, nada. não tens a certeza se é este o suposto destino, mas não vês alternativa. e avanças.
inspiração: sem inspiração
inspiração: sem inspiração
15032013
14 março 2013
setenta e dois
uma viagem perdida no tempo
a um lugar perdido de pessoas
mas cheio de pedras novas e alcatrão
horas passadas sem um segundo de sono
e uma angústia no fundo do estômago
até à viagem de volta à vida
inspiração: viagem em vão, exaustão
a um lugar perdido de pessoas
mas cheio de pedras novas e alcatrão
horas passadas sem um segundo de sono
e uma angústia no fundo do estômago
até à viagem de volta à vida
inspiração: viagem em vão, exaustão
14032013
setenta & setenta e um
he saw her
she didn't see him
he looked at her
she looked the other way
he walked towards her
she didn't even notice
still the sun was shining outside
and also on her smile
he stopped in front of her
she looked up and saw him
he said "hello"
she said "hi there"
he smiled at her
she smiled back
and the sun was shining outside
and also on her smile
and also on his smile
inspiração: insónia e ter de escrever em inglês
12032013
13032013
11 março 2013
sessenta e nove
queria ter inspiração divina
ou ter a inspiração como rotina
como dado adquirido
inspiração: (muitos dias) sem inspiração
ou ter a inspiração como rotina
como dado adquirido
como necessidade primária
queria ter inspiração diária
como se fosse intrínseca
como fórmula imediata
queria ter inspiração inata
sem projeto e sem plano
queria ter inspiração todos os dias do anoinspiração: (muitos dias) sem inspiração
11032013
sessenta e oito
A casa enche-se de sombras. Está escuro, as janelas e as varandas fechadas não deixam ver que já é primavera lá fora. Ao longe há o canto dos pássaros, mas ali dentro só se consegue ouvir o eco dos passos pelas divisões vazias. Cheira a mofo e tudo é frio: o chão de tijoleira, as paredes brancas e de azulejo, o ar que quase não se respira. Ao deixar-se cair pesadamente no sofá eleva-se uma fina nuvem de pó, que se vê graças a um fiozinho de luz que entra por uma fresta nas portadas. Indiferente a essa réstia de luz, fecha os olhos e adormece profundamente. Rompendo o silêncio ouve-se agora a sua leve respiração. Como um fiozinho de luz numa casa feita de sombras.
inspiração: sem inspiração
10032013
10 março 2013
sessenta e sete
Daqui a uns anos, quando olhares para trás, talvez vejas tudo com uma certa leveza. Mas agora, neste exato momento que vives, sabe que todas as coisas importantes devem ser vividas intensamente. Por isso é bom que te apaixones loucamente, que ames desmesuradamente, que sintas o fim do mundo em cada desgosto e que tenhas o coração sempre à flor da pele. Porque entretanto vais aprender e vais perder essa inocência de saber que a vida acontece exatamente agora.
inspiração: The perks of being a wallflower
inspiração: The perks of being a wallflower
09032013
08 março 2013
sessenta e seis
Ela entra na carruagem quase vazia e, sem pensar, senta-se num banco à janela. Em cada estação entra mais e mais gente, mas para ela é igual. Sente-se sozinha e nenhuma destas pessoas lhe faz diferença. Olha pela janela para a escuridão do túnel e acompanha com os olhos as linhas verdes e laranja que se fixam na parede. De entre uma nuvem de gargalhadas e conversas em francês e brasileiro, ela só ouve a voz da mulher, que se sobrepõe: "Próxima estação: São Sebastião. Há correspondência com a linha vermelha.". Ouvem-se mais vozes, português, inglês, um telefone toca, "Próxima estação: Parque.". Nada disto lhe interessa. Os olhos do outro lado da janela. A escuridão do túnel. As linhas verdes e laranja. "Próxima estação: Marquês de Pombal. Há correspondência com a linha amarela. Atenção à distância entre o comboio e a plataforma." E sai.
inspiração: a caminho de casa
inspiração: a caminho de casa
07032013
07 março 2013
sessenta e cinco
Vale a pena. Vale a pena? Não, não vale a pena. Mas espera. Pensa duas vezes. Pensa mais um bocado. E agora dorme. Amanhã talvez valha a pena.
inspiração: o meu cérebro bipolar
inspiração: o meu cérebro bipolar
06032013
05 março 2013
sessenta e quatro
a casa está pronta
a roupa está pendurada
e os sapatos polidos.
os planetas estão alinhados
e a vida está à espera.
mas ela adormeceu no sofá.
inspiração: sono
a roupa está pendurada
e os sapatos polidos.
os planetas estão alinhados
e a vida está à espera.
mas ela adormeceu no sofá.
inspiração: sono
05032013
sessenta e três
Encontrámo-nos finalmente. Sorrimos e abraçámo-nos como se não nos víssemos há muito tempo. Não nos víamos há tanto tempo... Olhámos para aquela nossa casa e estava tudo tão diferente quanto estava exatamente igual. Lá dentro teremos sempre as mesmas sensações e a alegria de sabermos que um dia aquilo foi também nosso.
Palminhámos as mesmas ruas, entrámos nos mesmos bares, fomos dar inevitavelmente ao último poiso daqueles dias. E encontrámos a mesma música, o mesmo cheiro, os mesmos gestos. E fomos divertidos, parvos, sérios e felizes, tal como naqueles dias. Mas desta vez fomos também nostálgicos.
Vimos o dia amanhecer, como há anos atrás. Atravessámos a ponte e fomos levados para um tempo tão longínquo quanto recente. Despedimo-nos, um de cada vez, com a promessa de nos vermos em breve e a certeza de que isso vai mesmo acontecer. Olhámo-nos e quisémos guardar essa imagem nítida que não vem das fotografias, mas da pessoa verdadeira que estava à nossa frente.
Passou tanto tempo e tudo mudou entretanto, mas nada mudou realmente.
inspiração: reencontro
Palminhámos as mesmas ruas, entrámos nos mesmos bares, fomos dar inevitavelmente ao último poiso daqueles dias. E encontrámos a mesma música, o mesmo cheiro, os mesmos gestos. E fomos divertidos, parvos, sérios e felizes, tal como naqueles dias. Mas desta vez fomos também nostálgicos.
Vimos o dia amanhecer, como há anos atrás. Atravessámos a ponte e fomos levados para um tempo tão longínquo quanto recente. Despedimo-nos, um de cada vez, com a promessa de nos vermos em breve e a certeza de que isso vai mesmo acontecer. Olhámo-nos e quisémos guardar essa imagem nítida que não vem das fotografias, mas da pessoa verdadeira que estava à nossa frente.
Passou tanto tempo e tudo mudou entretanto, mas nada mudou realmente.
inspiração: reencontro
05032013
04 março 2013
sessenta e dois
tudo me pesa:
os olhos
o corpo
o tempo
a história
e a vida
inspiração: cansaço
03032013
parêntesis
“ The idea is the whole thing. If you stay true to the idea, it tells you everything you need to know, really. You just keep working to make it look like that idea looked, feel like it felt, sound like it sounded, and be the way it was. And it's weird, because when you veer off, you sort of know it. You know when you're doing something that is not correct because it feels incorrect. It says, "No, no; this isn't like the idea said it was." And when you're getting into it the correct way, it feels correct. It's an intuition: You feel-think your way through it. You start one place, and as you go, it gets more and more finely tuned. But all along it's the idea talking. At some point, it feels correct to you. And you hope that it feels somewhat correct to others. „
CATCHING THE BIG FISH
meditation, consciousness, and creativity
David Lynch
02 março 2013
sessenta e um
quantas viagens por quantos mundos imaginários?
quantas galáxias percorridas?
quantas paisagens áridas e quantas verdejantes?
quantos sons inventados, grotescos e celestiais?
quantos vozes levadas ao cume da sua bela imperfeição?
quantos sonhos desvendados?
quantos arrepios na pele?
inspiração: este vídeo (obrigada, Sara):
quantas galáxias percorridas?
quantas paisagens áridas e quantas verdejantes?
quantos sons inventados, grotescos e celestiais?
quantos vozes levadas ao cume da sua bela imperfeição?
quantos sonhos desvendados?
quantos arrepios na pele?
inspiração: este vídeo (obrigada, Sara):
02032013
01 março 2013
sessenta
Ouço o som intermitente enquanto espero. Não me consigo mexer embora todo o meu corpo trema, e sinto o coração à flor da pele. Pergunto-me que frases irão sair da minha boca. O raciocínio que tenho pronto para despejar torna-se difuso, são pequenas nuvens cinzentas que se vão dissipando à medida que os segundos passam, acompanhados por esse som intermitente. Neste momento já duvido que vá ter um discurso coerente, e nem sei até que ponto vou conseguir alinhar as palavras de maneira a que façam algum sentido. Ouço o som intermitente enquanto espero. E alimento uma cobarde esperança de que ele não atenda.
inspiração: um desafio de escrita de microficção, com o tema "chamada perdida"
inspiração: um desafio de escrita de microficção, com o tema "chamada perdida"
01032013
cinquenta e nove
Fecha os olhos. Respira fundo. Sente a turbulência. Repara no silêncio.
Respira fundo se sentes o coração bater ainda forte. Esquece. Mergulha mais fundo.
Abre os olhos para dentro. Respira para dentro. Ouve-te. Respira-te. Absorve-te.
inspiração: Catching the big fish, David Lynch
Respira fundo se sentes o coração bater ainda forte. Esquece. Mergulha mais fundo.
Abre os olhos para dentro. Respira para dentro. Ouve-te. Respira-te. Absorve-te.
inspiração: Catching the big fish, David Lynch
28022013
28 fevereiro 2013
cinquenta e oito
Andam todos na mesma direção, mesmo quando vão em sentidos opostos. Têm todos a mesma postura, a mesma expressão, os olhos postos no mesmo chão. Se acreditassem que a vida não tem contrário, talvez levantassem a cabeça e olhassem para a forma das nuvens ou para as varandas ornamentadas. Talvez sorrissem para a pessoa que se senta na mesa ao lado no café. Talvez suportassem a birra da criança em hora de ponta. Talvez andassem mais atentos. Talvez vivessem mais felizes. Talvez vivessem mais.
inspiração: o largo do Rato e este excerto:
É curioso que as pessoas usem a expressão "vida e morte".
A morte não é contrário da vida, mas sim do nascimento.
A vida não tem contrário.
(Sete palmos de terra)
inspiração: o largo do Rato e este excerto:
É curioso que as pessoas usem a expressão "vida e morte".
A morte não é contrário da vida, mas sim do nascimento.
A vida não tem contrário.
(Sete palmos de terra)
28022013
26 fevereiro 2013
cinquenta e sete
o amor fica para sempre
seja de que maneira for
na dor que deixa
quando nos deixa para trás
fica num cantinho do coração
ou do quarto
ou da sala
fica no fundo dos baús
e no fundo da memória
fica na história que fica impressa na pele
e por baixo da pele
no sangue
inspiração esta história
seja de que maneira for
na dor que deixa
quando nos deixa para trás
fica num cantinho do coração
ou do quarto
ou da sala
fica no fundo dos baús
e no fundo da memória
fica na história que fica impressa na pele
e por baixo da pele
no sangue
inspiração esta história
26022013
cinquenta e seis
ela sonha
vendo o mundo através do vidro da janela
ela conhece tão bem aquela paisagem
e imagina um dia poder conhecer o que há
para lá do seu horizonte
ele sonha
com rios e florestas e estradas
com as infinitas possibilidades
e imagina um dia poder perder-se no que há
para lá do seu horizonte
ela vive
de olhos presos no chão
e sorriso pronto a despontar
ele vive
com pés assentes na terra
mas a cabeça sempre no ar
inspiração: pedaços de textos antigos
vendo o mundo através do vidro da janela
ela conhece tão bem aquela paisagem
e imagina um dia poder conhecer o que há
para lá do seu horizonte
ele sonha
com rios e florestas e estradas
com as infinitas possibilidades
e imagina um dia poder perder-se no que há
para lá do seu horizonte
ela vive
de olhos presos no chão
e sorriso pronto a despontar
ele vive
com pés assentes na terra
mas a cabeça sempre no ar
inspiração: pedaços de textos antigos
21022013
(a compensar o 10022013 em falta)
cinquenta e cinco
leva-me para longe
num aviãozinho de papel
pelas nuvens que parecem de algodão
leva-me para longe
num barquinho de papel
pelas ondas de mares transparentes
inpiração: Paperman
num aviãozinho de papel
pelas nuvens que parecem de algodão
leva-me para longe
num barquinho de papel
pelas ondas de mares transparentes
inpiração: Paperman
25022013
25 fevereiro 2013
cinquenta e quatro
Ouço a vida e os carros a passar lá fora. Cá dentro, só a respiração tranquila de quem já dorme e o silêncio pesado dentro da minha própria cabeça. E o escuro.
Espero. Já quase adormeço também. Espero mais um pouco. Adormeço.
inspiração: o que acontece enquanto não durmo
Espero. Já quase adormeço também. Espero mais um pouco. Adormeço.
inspiração: o que acontece enquanto não durmo
24022013
23 fevereiro 2013
cinquenta e três
esforço-me por me encher de paisagens. mas os olhos esbarram em paredes vazias.
inspiração: sem inspiração
23022013
cinquenta e dois
sozinha flutuo entre cá e lá
ou entre o que é real e o que já é sonho
no limite de um estado consciente
ou na noção de não haver esse limite
inspiração: sono
ou entre o que é real e o que já é sonho
no limite de um estado consciente
ou na noção de não haver esse limite
inspiração: sono
22022013
22 fevereiro 2013
cinquenta e um
tenho um amor
da cor do mel e olhos claros
que só me ama quando lhe apetece
passa o dia na rua
chega de madrugada
dorme no sofá
mas nos dias de chuva
gosta de se deitar no meu colo
e de ficar a olhar para mim
deita-se na minha cama quando vou dormir
e aquece-me até amanhecer
inspiração: Mel, o gato
da cor do mel e olhos claros
que só me ama quando lhe apetece
passa o dia na rua
chega de madrugada
dorme no sofá
mas nos dias de chuva
gosta de se deitar no meu colo
e de ficar a olhar para mim
deita-se na minha cama quando vou dormir
e aquece-me até amanhecer
inspiração: Mel, o gato
21022013
20 fevereiro 2013
cinquenta
chegámos ao paraíso
por um caminho de terra batida
depois de uma estrada que parecia não ter fim
o paraíso é o fim do mundo
rodeado de árvores e de silêncio
com um rio ao fundo e uma casa logo ali
o paraíso não tem horas
espreguiça-se pelos corpos deitados
esconde-se nos olhos fechados
de quem está a sonhar
o paraíso foi nosso
num sonho que vivemos acordados
inocentes e apaixonados
até ser hora de voltar
o paraíso existe
preso nos dias do verão passado
perdido nas memórias que guardo de ti
e quando voltarmos
será por um caminho de terra batida
depois de uma estrada que parece não ter fim
inspiração: um início de texto inspirado em Minas de S. Domingos
por um caminho de terra batida
depois de uma estrada que parecia não ter fim
o paraíso é o fim do mundo
rodeado de árvores e de silêncio
com um rio ao fundo e uma casa logo ali
o paraíso não tem horas
espreguiça-se pelos corpos deitados
esconde-se nos olhos fechados
de quem está a sonhar
o paraíso foi nosso
num sonho que vivemos acordados
inocentes e apaixonados
até ser hora de voltar
o paraíso existe
preso nos dias do verão passado
perdido nas memórias que guardo de ti
e quando voltarmos
será por um caminho de terra batida
depois de uma estrada que parece não ter fim
inspiração: um início de texto inspirado em Minas de S. Domingos
20022013
19 fevereiro 2013
quarenta e nove
sabe bem o sol
ter de semicerrar os olhos
despir o casaco
beber um chá gelado
sabe bem o sol
e o rio a um palmo
a cidade aos meus pés
o riso despreocupado
sabe bem uma tarde de calor no inverno
inspiração: uma tarde de calor
ter de semicerrar os olhos
despir o casaco
beber um chá gelado
sabe bem o sol
e o rio a um palmo
a cidade aos meus pés
o riso despreocupado
sabe bem uma tarde de calor no inverno
inspiração: uma tarde de calor
19022013
quarenta e oito
tive um sonho
em que aparecias tal como me lembro de ti
mais bonita ainda
iluminada
estavas feliz
via-se pelo brilho nos teus olhos
estavas tão feliz
e tudo estava bem
como há anos atrás
inspiração: um sonho
em que aparecias tal como me lembro de ti
mais bonita ainda
iluminada
estavas feliz
via-se pelo brilho nos teus olhos
estavas tão feliz
e tudo estava bem
como há anos atrás
inspiração: um sonho
18022013
18 fevereiro 2013
quarenta e sete
durante aquele tempo fomos só nós. o mundo éramos nós. e esse tempo era para sempre. acreditámos que éramos tudo o que havia. que éramos infinitos. o início e o fim estavam em nós. a natureza estava em nós, as marés, as fases da lua, as constelações, as estações do ano, os anos, as horas, todos os milésimos de segundo. naquele tempo víamo-nos completos e perfeitos um no outro. naquele tempo não sabíamos que o nosso fim ia chegar antes do fim de cada um de nós.
inspiração: Blue Valentine
inspiração: Blue Valentine
17022013
16 fevereiro 2013
quarenta e seis
enche-me os olhos
de coisas bonitas
jardins cheios de flores
praias desertas
balões, algodão doce e carrosséis
leva-me até ao verão
às peles morenas
e aos cabelos salgados
mostra-me
como as manhãs são suaves
as tardes preguiçosas
e as noites imprevisíveis
adormece-me
numa rede presa nas árvores
a minha cabeça no teu ombro
o teu calor na minha pele
sonha-me
em branco e dourado
em bela e efémera
em imperfeita e feliz
inspiração: 63 imagens de inspiração
de coisas bonitas
jardins cheios de flores
praias desertas
balões, algodão doce e carrosséis
leva-me até ao verão
às peles morenas
e aos cabelos salgados
mostra-me
como as manhãs são suaves
as tardes preguiçosas
e as noites imprevisíveis
adormece-me
numa rede presa nas árvores
a minha cabeça no teu ombro
o teu calor na minha pele
sonha-me
em branco e dourado
em bela e efémera
em imperfeita e feliz
inspiração: 63 imagens de inspiração
16022013
quarenta e cinco
calmas manhãs
vendo a chuva cair
lá fora
calmas manhãs
vendo a luz entrar
pela janela
calmas manhãs
vendo o sol rasgar
as nuvens
inspiração: esta imagem (daqui):
vendo a chuva cair
lá fora
calmas manhãs
vendo a luz entrar
pela janela
calmas manhãs
vendo o sol rasgar
as nuvens
inspiração: esta imagem (daqui):
15022013
15 fevereiro 2013
quarenta e quatro
de vestido branco e laço no cabelo, saí
fingi que era primavera e fui à procura de flores por aí
encontrei-te sentado num banco do jardim
e sentei-me ao teu lado à espera que olhasses para mim
lias um livro com um ar muito concentrado
e eu percebi que ia ficar ali um bom bocado
peguei neste caderno e no lápis para me entreter
sabia que pelo cantinho do olho já me estavas a ver
vejo-te passar todos os dias pela minha rua
e ambos sabemos que tu serás meu como eu serei tua
mas por agora fiquemos só sentados neste banco de jardim
à espera do início de uma história da qual já sabemos o fim
inspiração: Tiê
fingi que era primavera e fui à procura de flores por aí
encontrei-te sentado num banco do jardim
e sentei-me ao teu lado à espera que olhasses para mim
lias um livro com um ar muito concentrado
e eu percebi que ia ficar ali um bom bocado
peguei neste caderno e no lápis para me entreter
sabia que pelo cantinho do olho já me estavas a ver
vejo-te passar todos os dias pela minha rua
e ambos sabemos que tu serás meu como eu serei tua
mas por agora fiquemos só sentados neste banco de jardim
à espera do início de uma história da qual já sabemos o fim
inspiração: Tiê
14022013
14 fevereiro 2013
quarenta e três
Ela enrola-se sobre si mesma, não sabe se por causa do frio se do hábito, e fecha os olhos. O corpo aquece à medida que a respiração se torna mais espaçada. a cabeça pesa na almofada por onde se espalham os cabelos. Pouco a pouco, o corpo afunda-se no colchão. Um a um, os pensamentos viajam em direção a outro universo. O silêncio é quase absoluto, não fosse o ar que calmamente é sugado e depois devolvido ao seu lugar. Dentro dela, o silêncio é uma canção de embalar que lhe leva a consciência para mais fundo. Até ao sítio onde nascem e vivem e morrem os sonhos.
Ela enrola-se sobre si mesma e adormece.
inspiração: After Dark, Haruki Murakami
13022013
13 fevereiro 2013
quarenta e dois
para lhe dizer
tudo o que é preciso
sussurrado ao ouvido
ou de olhos postos nos seus
teria de criar uma capa
pôr uma máscara
inventar outra voz
e talvez tivesse
de lhe voltar as costas
para não o ver
para que não me olhasse
tão diretamente
talvez fosse mais fácil
escrever num papel
e ler
ou enviar por correio
inspiração: insónia e coisas por dizer
tudo o que é preciso
sussurrado ao ouvido
ou de olhos postos nos seus
teria de criar uma capa
pôr uma máscara
inventar outra voz
e talvez tivesse
de lhe voltar as costas
para não o ver
para que não me olhasse
tão diretamente
talvez fosse mais fácil
escrever num papel
e ler
ou enviar por correio
inspiração: insónia e coisas por dizer
12022013
12 fevereiro 2013
quarenta e um
escrevo-me de dentro para fora. com ideias confusas. frases soltas. escrevo-me sem sentido aparente.
no espelho sou transparente e contraditória. e sempre mais do que uma pessoa. com ideias soltas. vozes confusas. no espelho não há sentido nenhum.
ao vivo sou só fachada. nunca transparente. sempre contraditória. uma parede falsa que esconde tempestades e maremotos. ao vivo há um sentido muito falso de haver algum sentido.
inspiração: Mi pinto a mi misma porque estoy con frecuencia sola e porque soy la persona a cual mejor conozco. (Frida Kahlo)
no espelho sou transparente e contraditória. e sempre mais do que uma pessoa. com ideias soltas. vozes confusas. no espelho não há sentido nenhum.
ao vivo sou só fachada. nunca transparente. sempre contraditória. uma parede falsa que esconde tempestades e maremotos. ao vivo há um sentido muito falso de haver algum sentido.
inspiração: Mi pinto a mi misma porque estoy con frecuencia sola e porque soy la persona a cual mejor conozco. (Frida Kahlo)
11022013
quarenta
se me pedires para ir até ao fim do mundo
eu vou
se me pedires que espere aqui
eu espero
e se me pedires que diga sim
eu digo
mesmo que eu saiba que devo dizer não
mesmo que eu saiba que devo ir
mesmo que eu saiba que devo ficar
e penso
quantas vezes já fui ao fim do mundo e voltei
e não sei se aprendi alguma coisa
e vejo
que depois de tanto que já andei
e depois de tantas voltas que já dei
estou de volta ao mesmo lugar
venho sempre parar ao mesmo lugar
inspiração: comportamento de risco recorrente
eu vou
se me pedires que espere aqui
eu espero
e se me pedires que diga sim
eu digo
mesmo que eu saiba que devo dizer não
mesmo que eu saiba que devo ir
mesmo que eu saiba que devo ficar
e penso
quantas vezes já fui ao fim do mundo e voltei
e não sei se aprendi alguma coisa
e vejo
que depois de tanto que já andei
e depois de tantas voltas que já dei
estou de volta ao mesmo lugar
venho sempre parar ao mesmo lugar
inspiração: comportamento de risco recorrente
11022013
09 fevereiro 2013
trinta e nove
Há já muito tempo que as fotografias não são resgatadas de uma ausência poeirenta. A memória tenta construir um rosto através de pedaços das expressões inertes e dos sorrisos impressos no brilho desses papéis. Mas os detalhes, os pormenores das feições, dos sinais, das rugas, esses são como o fumo que se dissolve lentamente até desaparecer. A realidade de todos os dias tem ainda uma voz que se ouve ao longe, distante e casual, como se isso fosse alguma vez possível. Em dias raros, a ausência dá lugar a um coração quente e cheio. A realidade desses dias reveste-se de uma luz efémera que por momentos lhe devolve o alento. Mas a realidade dela é estar sozinha.
inspiração: insónia e um texto antigo
inspiração: insónia e um texto antigo
08022013
trinta e oito
a noite vai passando lentamente, com os seus mistérios e os seus cantos escuros, com a sua vida acontecendo lá fora. a manhã irá chegar entretanto, com o primeiro canto dos pássaros e o orvalho pousado nas folhas. e talvez com o meu corpo inquieto e acordado.
inspiração: sem sono
inspiração: sem sono
08022013
trinta e sete
e de repente, pés descalços à beira do precipício, olhas para o lado e vês uma pequena estrada, estreita, de terra batida e pedras. tens coragem de a atravessar?
inspiração: as palavras dos outros
inspiração: as palavras dos outros
06022013
06 fevereiro 2013
trinta e seis
o fim tão perto
aos pés da cama
no fundo do corredor
do lado de lá da porta.
e o melhor caminho será sempre o dos olhos nos olhos
o das mãos dadas
o dos sorrisos que despontam sozinhos
o das lágrimas que não conseguimos evitar.
inspiração: Now is good
05022013
04 fevereiro 2013
trinta e cinco
10 minutos: uma folha em branco, as mãos paradas, os olhos vazios.
7 minutos: o relógio marca as horas e só ele se apercebe de que o tempo não espera por ninguém.
5 minutos: ainda nada. os olhos ainda vazios, as mãos ainda paradas.
4 minutos:
3 minutos: desiste.
inspiração: sem inspiração
7 minutos: o relógio marca as horas e só ele se apercebe de que o tempo não espera por ninguém.
5 minutos: ainda nada. os olhos ainda vazios, as mãos ainda paradas.
4 minutos:
3 minutos: desiste.
inspiração: sem inspiração
04022013
03 fevereiro 2013
trinta e quatro
Sinto o vento bater-me na cara enquanto desço a estrada de pedra. Olho em volta. Sou o único passo apressado.
Sinto o frio invadir-me as mãos enquanto desço a calçada. Passo por prédios de onde saem reis sedentos de mundo e vultos de homens enormes que comem estrelas. Sou o único passo atento.
Sinto a noite cair nos meus olhos enquanto subo a estrada de alcatrão. Passo por uma janela de onde sai o som de um piano. Paro por momentos e sigo. Sou o único passo hesitante.
Vejo o céu ainda amarelo e laranja ao fundo da rua. Chego a casa. Sou o único passo. E paro.
inspiração: domingo em Lisboa
03022013
trinta e três
sorri quando a vi. ou melhor, olhei para ela e ri-me por ela se estar a rir de eu me estar a rir. reconheci-lhe esse riso e reconheci em mim as saudades dela. sabe-me sempre bem sentir que não passou tempo nenhum e que ela nunca esteve fora da minha vida. e no entanto querer saber tudo, que ela me conte todas as histórias que lhe aconteceram e que me fale de todas as pessoas que conheceu. mas gosto que ela pergunte "e tu?" e que eu simplesmente responda "estou bem!". e que tudo volte a ser como era antes de ela se ter ido embora.
inspiração: Carol
inspiração: Carol
02022013
02 fevereiro 2013
trinta e dois
branco
à minha frente tudo branco
opaco, vácuo, vazio
e luz
luz que fere os olhos
arde por dentro
arde nos olhos
fere por dentro
inspiração: sem inspiração
à minha frente tudo branco
opaco, vácuo, vazio
e luz
luz que fere os olhos
arde por dentro
arde nos olhos
fere por dentro
inspiração: sem inspiração
01022013
01 fevereiro 2013
trinta e um
chegaste ao primeiro fim. quanto custou? quantas vezes não acreditaste? quiseste desistir logo no primeiro dia e no segundo e no terceiro. todos os dias quiseste um bocadinho desistir. todos os dias te obrigaste a dar mais um passo.
segue em frente e vai olhando para trás. nunca sabes de onde pode vir uma inspiração.
inspiração: o primeiro mês!
segue em frente e vai olhando para trás. nunca sabes de onde pode vir uma inspiração.
inspiração: o primeiro mês!
31012013
trinta
Ela chega a casa, liga o aquecedor e deixa o frio lá fora. Põe um disco a tocar e vai até à cozinha. As luzes de natal na janela convidam a coisas quentes e doces. A bancada limpa e as tigelas coloridas convidam a sujar as mãos de manteiga e açúcar. Ao chocolate derretido junta-se o licor e as bolachas. Ela gosta do som da casca de ovo a partir-se e do barulho que faz o papel de alumínio.
Ela abre o frigorífico, tira o salame e corta uma fatia. Põe um saquinho de chá e um pau de canela na água quase fervida. No sofá, esperam-na uma manta polar e o livro já no fim. É noite e está frio lá fora.
inspiração: salame de chocolate
Ela abre o frigorífico, tira o salame e corta uma fatia. Põe um saquinho de chá e um pau de canela na água quase fervida. No sofá, esperam-na uma manta polar e o livro já no fim. É noite e está frio lá fora.
inspiração: salame de chocolate
31012013
31 janeiro 2013
vinte e nove
foi o riso
é sempre o riso
vai sempre ser preciso que me faças rir desta maneira
foram os dedos
naquele dia os teus dedos
que se fizeram enredo com os meus desta maneira
foi de repente
tudo foi de repente
e é ponto assente que não podia ser de outra maneira
inspiração: vinte e oito
é sempre o riso
vai sempre ser preciso que me faças rir desta maneira
foram os dedos
naquele dia os teus dedos
que se fizeram enredo com os meus desta maneira
foi de repente
tudo foi de repente
e é ponto assente que não podia ser de outra maneira
inspiração: vinte e oito
30012013
vinte e oito
foi o riso
sempre o riso
foi por ser tão fácil
foi por ser tão de repente
tão confortável
inspiração: Carta de Paris, Fausto
30012013
sempre o riso
foi por ser tão fácil
foi por ser tão de repente
tão confortável
inspiração: Carta de Paris, Fausto
30012013
30 janeiro 2013
vinte e sete
(abre os olhos
lá fora é noite
o despertador insiste que já é manhã
a cama está quente, em flanela e edredon
mas o relógio diz que esse tempo acabou
a água corre
ferve, arde
lava o sono e os sonhos de uma vez
lava a cara e o corpo ainda cansado
e o relógio diz que o tempo já vai adiantado
pão torrado
manteiga fresca
o pequeno-almoço é tomado a correr
uma caneca de café com leite bebido de um trago
e o relógio ainda diz que o tempo é tão vago
o dia passa em alvoroço
entre o metro e o escritório e o almoço
a tarde já vai longa
a noite cai
o regresso a casa ainda vai tardar
e é quanto baste para naquele momento
ele suspirar)
acaba o dia
sai exausto
ao encontro do frio e do fumo e do trânsito
desaparece camuflado na multidão de gente
e o relógio não pára, manda o tempo ir em frente
abre a porta
e o sorriso
em casa há risos e está calor
cheira à comida já pronta do jantar
e ele diz ao relógio que o tempo ali não tem lugar
e à noite encontra o amor
numa cama de flanela e edredon
os filhos dormem descansados
a mulher sorri
é tempo de o tempo parar
e é quanto baste para naquele momento
ele suspirar
inspiração: vinte e quatro
29012013
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