O tempo é uma coisa estranha. Sim, esta frase é um cliché. Mas em duas semanas a minha vida deu uma volta tão grande que quando olho para trás parece-me que passaram meses.
No dia 4 de novembro fiz 30 anos. Foi um verdadeiro choque para mim ver esse número tão redondo em grandes velas num bolo brigadeiro com que me presentearam ao almoço. Não quis soprar essas velas nem quis olhar para esse número. Na verdade não me queria ver com 30 anos e tanta coisa por resolver. Passei esse dia rodeada de pessoas que me amam muito. Ao final da noite senti-me mais tranquila mas ainda não feliz.
Uns dias depois, outra pessoa tomou por mim uma decisão que eu devia ter tido coragem de tomar há muito tempo, há tempo demais. Desde esse dia já senti dor, tristeza, raiva, esperança, alegria, paz. Tudo ao mesmo tempo e várias vezes ao dia. A melhor parte é que sinto o coração cheio como há muitos anos não sentia. Talvez até como nunca tinha sentido. Sinto também uma certeza de finalmente estar na direção certa, sabendo que a caminhada vai ser longa e que os passos terão de ser pequenos. E sinto esta certeza por finalmente perceber que tinha de passar pelo que passei, de tomar todas as decisões erradas que tomei, de enfiar fundo o pé na poça e sofrer as consequências. Perceber que tinha de cometer várias vezes os mesmos erros para me conhecer melhor e assim ter abertura para me melhorar.
O mais incrível de tudo isto é a forma como todos os últimos acontecimentos na minha vida se encaixaram para que não tivesse de iniciar este processo sozinha. Isso seria duro e não daria resultado. Já o tentei tantas vezes... A verdade é que finalmente todas as coisas se alinharam para que hoje pudesse estar onde estou: todas as minhas experiências, todas as decisões erradas, todas as chapadas na cara, e a ajuda das pessoas que nunca desistem de mim, o acolhimento de outras que ainda nem me conhecem, o amor incondicional de quem na verdade esteve sempre ao meu lado, mesmo quando eu não quis ver.
Sim, o tempo é uma coisa estranha. Hoje sento-me no meu mesmo sofá, na minha mesma casa, com o meu mesmo gato e o meu mesmo computador. Mas o lugar onde me encontro é totalmente outro!
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