na rua da Condessa existe um mundo cor-de-rosa
onde vivem personagens como as dos contos de encantar
existe uma porta sempre aberta e alguém sempre a espreitar
e, do alto do seu 4º andar
ela sonha ser princesa
na rua da Condessa ninguém anda desencontrado
nem o rapaz com um olho para cada lado
que tem sempre alguma coisa interessante para contar
e, do alto do seu 4º andar
ela sonha ser princesa
na rua da Condessa todos fingem não saber nada
da mulher que chega sempre de madrugada
amanhã a velha à janela já vai ter do que falar
e, do alto do seu 4º andar
ela sonha ser princesa
na rua da Condessa que só anda num sentido
não há ninguém que passe despercebido
nem o vizinho de baixo que passa o dia a pintar
e, do alto do seu 4º andar
ela sonha ser princesa
todos os dias ela acorda numa cama de dossel
deita um olhar ao castelo e sorri
veste um vestido, prende o cabelo, põe o batom
e sai de casa com jeitos de princesa
como quem tem a certeza de que a rua é toda dela
(esta letra finalmente tem música! não é nova mas depois de quase 5h a olhar para ela, acho que merece vir para aqui)
do coração para fora
05 dezembro 2013
27 novembro 2013
o (novo) caminho dela
Um dia ela parou e olhou para trás. Viu que tinha percorrido muitos quilómetros, mas por várias vezes tinha dado voltas e curvas e acabado por ir parar ao mesmo sítio. Viu que não estava muito longe do início, e o início já tinha sido há tanto tempo.
Naquele sítio ela viu todos os erros do caminho, os mapas enganados, os desvios mal assinalados, e surpreendeu-se por não ter percebido mais cedo que não ia chegar a lado nenhum.
Ela olhou em frente e viu enfim uma estrada bem iluminada. Viu os desvios mal assinalados, as curvas apertadas e os buracos no alcatrão. Respirou fundo e começou a andar.
inspiração: "Se não temos uma noção do que nos aconteceu no passado, não temos noção do que nos pode acontecer no futuro." - Tiago Cavaco
Naquele sítio ela viu todos os erros do caminho, os mapas enganados, os desvios mal assinalados, e surpreendeu-se por não ter percebido mais cedo que não ia chegar a lado nenhum.
Ela olhou em frente e viu enfim uma estrada bem iluminada. Viu os desvios mal assinalados, as curvas apertadas e os buracos no alcatrão. Respirou fundo e começou a andar.
inspiração: "Se não temos uma noção do que nos aconteceu no passado, não temos noção do que nos pode acontecer no futuro." - Tiago Cavaco
27112013
24 novembro 2013
30 anos e a eternidade pela frente
O tempo é uma coisa estranha. Sim, esta frase é um cliché. Mas em duas semanas a minha vida deu uma volta tão grande que quando olho para trás parece-me que passaram meses.
No dia 4 de novembro fiz 30 anos. Foi um verdadeiro choque para mim ver esse número tão redondo em grandes velas num bolo brigadeiro com que me presentearam ao almoço. Não quis soprar essas velas nem quis olhar para esse número. Na verdade não me queria ver com 30 anos e tanta coisa por resolver. Passei esse dia rodeada de pessoas que me amam muito. Ao final da noite senti-me mais tranquila mas ainda não feliz.
Uns dias depois, outra pessoa tomou por mim uma decisão que eu devia ter tido coragem de tomar há muito tempo, há tempo demais. Desde esse dia já senti dor, tristeza, raiva, esperança, alegria, paz. Tudo ao mesmo tempo e várias vezes ao dia. A melhor parte é que sinto o coração cheio como há muitos anos não sentia. Talvez até como nunca tinha sentido. Sinto também uma certeza de finalmente estar na direção certa, sabendo que a caminhada vai ser longa e que os passos terão de ser pequenos. E sinto esta certeza por finalmente perceber que tinha de passar pelo que passei, de tomar todas as decisões erradas que tomei, de enfiar fundo o pé na poça e sofrer as consequências. Perceber que tinha de cometer várias vezes os mesmos erros para me conhecer melhor e assim ter abertura para me melhorar.
O mais incrível de tudo isto é a forma como todos os últimos acontecimentos na minha vida se encaixaram para que não tivesse de iniciar este processo sozinha. Isso seria duro e não daria resultado. Já o tentei tantas vezes... A verdade é que finalmente todas as coisas se alinharam para que hoje pudesse estar onde estou: todas as minhas experiências, todas as decisões erradas, todas as chapadas na cara, e a ajuda das pessoas que nunca desistem de mim, o acolhimento de outras que ainda nem me conhecem, o amor incondicional de quem na verdade esteve sempre ao meu lado, mesmo quando eu não quis ver.
Sim, o tempo é uma coisa estranha. Hoje sento-me no meu mesmo sofá, na minha mesma casa, com o meu mesmo gato e o meu mesmo computador. Mas o lugar onde me encontro é totalmente outro!
No dia 4 de novembro fiz 30 anos. Foi um verdadeiro choque para mim ver esse número tão redondo em grandes velas num bolo brigadeiro com que me presentearam ao almoço. Não quis soprar essas velas nem quis olhar para esse número. Na verdade não me queria ver com 30 anos e tanta coisa por resolver. Passei esse dia rodeada de pessoas que me amam muito. Ao final da noite senti-me mais tranquila mas ainda não feliz.
Uns dias depois, outra pessoa tomou por mim uma decisão que eu devia ter tido coragem de tomar há muito tempo, há tempo demais. Desde esse dia já senti dor, tristeza, raiva, esperança, alegria, paz. Tudo ao mesmo tempo e várias vezes ao dia. A melhor parte é que sinto o coração cheio como há muitos anos não sentia. Talvez até como nunca tinha sentido. Sinto também uma certeza de finalmente estar na direção certa, sabendo que a caminhada vai ser longa e que os passos terão de ser pequenos. E sinto esta certeza por finalmente perceber que tinha de passar pelo que passei, de tomar todas as decisões erradas que tomei, de enfiar fundo o pé na poça e sofrer as consequências. Perceber que tinha de cometer várias vezes os mesmos erros para me conhecer melhor e assim ter abertura para me melhorar.
O mais incrível de tudo isto é a forma como todos os últimos acontecimentos na minha vida se encaixaram para que não tivesse de iniciar este processo sozinha. Isso seria duro e não daria resultado. Já o tentei tantas vezes... A verdade é que finalmente todas as coisas se alinharam para que hoje pudesse estar onde estou: todas as minhas experiências, todas as decisões erradas, todas as chapadas na cara, e a ajuda das pessoas que nunca desistem de mim, o acolhimento de outras que ainda nem me conhecem, o amor incondicional de quem na verdade esteve sempre ao meu lado, mesmo quando eu não quis ver.
Sim, o tempo é uma coisa estranha. Hoje sento-me no meu mesmo sofá, na minha mesma casa, com o meu mesmo gato e o meu mesmo computador. Mas o lugar onde me encontro é totalmente outro!
06 maio 2013
cento e quatro
Viveu tudo ao contrário. Primeiro os filhos, o casamento, a vida adulta, e só depois, muitos anos depois, os sonhos. Não por uma questão de escolha, mas porque a vida assim lhe foi acontecendo. Muito cedo aprendeu o significado de sacrifício e o que custa abdicar dos planos e dos anos que imaginara diferentes. Muito cedo aprendeu também que existe um amor superior a todas essas coisas. E ao longo desses anos em que esperou pacientemente pela sua vez, teve ao seu lado dois sorrisos que lhe amparavam todos os passos. Podia ter-se tornado uma pessoa conformada com a sua sorte. Mas como os sonhos só morrem no fim de tudo, agarrou-se à força dos seus dois sorrisos para finalmente voar do ninho até outro verão. E percebeu que a vida pode começar de novo sempre que se quiser. Enquanto houver força e uma vontade que queima. Enquanto houver inquietação e desejo de mais. Enquanto não houver resignação. E os seus dois sorrisos permanecerão ao seu lado.
inspiração: (dia da) mãe
inspiração: (dia da) mãe
05052013
30 abril 2013
cento e três
A minha memória daquela terra vem sempre acompanhada do calor sufocante do verão e do cheiro a figos, e por isso foi com estranheza que passeei sob um céu nublado, apertando o casaco contra o vento frio. Estranhei também ver que a rua tem nome e até placa - "Rua da Adega" - quando sempre a conheci como "a rua de nossa casa, a que vai até à estrada principal, de alcatrão". Essa rua já foi para mim muito longa e larga, e o que mais gostava nela eram as silvas que a ladeavam e de onde eu roubava mãos-cheias de amoras ao final da tarde, quando o sol já não era tão forte.
A meio da rua fica a casa da Rosário, cada vez mais velha e pequenina, mas sempre miúda. Fazem-lhe muita falta as cabras que já vendeu, e a mim fazem-me falta os queijos que deixou de fazer. Tem sempre por companhia um Carriço obediente (nunca teve um cão com outro nome), que a segue para todo o lado. Penso sempre se será esta a última vez que a vejo, e desejo sempre que não seja. O riso e o brilho dos olhos da Rosário fazem tanto parte daquele lugar como as casas, as oliveiras e as minhas recordações.
Entro em casa e vejo que, surpreendentemente, aguentou bem as chuvas deste inverno rigoroso. Tirando as teias de aranha e o leve cheiro a ratos mortos na loja, está quase exatamente como estava da última vez que lá fui (há quanto tempo terá sido?). Lá fora já não há caminho para a eira, só feno e ervas que crescem indiscriminadamente por ali. A avó diz que não é problema, que se arrancam facilmente. O tanque já não servirá para grande coisa, e a horta já desapareceu há muito. Mas o cheiro das flores é incrivelmente intenso e quase compensa a paisagem.
Quando lá voltar vai estar calor, e vou querer comer figos e maçarocas de milho assadas na fogueira. Vou querer refazer o trilho para a eira onde aprendi a jogar à Bisca, e deitar-me em cima do poço à noite para ver as estrelas. E de regresso, como hoje, hei-de ir visitar as pessoas mais queridas da minha memória, sentar-me junto delas e admirar as flores de plástico, dar-lhes um beijo e saudades, e deixar com elas esse passado até à próxima vez.
inspiração: Val da Couda
A meio da rua fica a casa da Rosário, cada vez mais velha e pequenina, mas sempre miúda. Fazem-lhe muita falta as cabras que já vendeu, e a mim fazem-me falta os queijos que deixou de fazer. Tem sempre por companhia um Carriço obediente (nunca teve um cão com outro nome), que a segue para todo o lado. Penso sempre se será esta a última vez que a vejo, e desejo sempre que não seja. O riso e o brilho dos olhos da Rosário fazem tanto parte daquele lugar como as casas, as oliveiras e as minhas recordações.
Entro em casa e vejo que, surpreendentemente, aguentou bem as chuvas deste inverno rigoroso. Tirando as teias de aranha e o leve cheiro a ratos mortos na loja, está quase exatamente como estava da última vez que lá fui (há quanto tempo terá sido?). Lá fora já não há caminho para a eira, só feno e ervas que crescem indiscriminadamente por ali. A avó diz que não é problema, que se arrancam facilmente. O tanque já não servirá para grande coisa, e a horta já desapareceu há muito. Mas o cheiro das flores é incrivelmente intenso e quase compensa a paisagem.
Quando lá voltar vai estar calor, e vou querer comer figos e maçarocas de milho assadas na fogueira. Vou querer refazer o trilho para a eira onde aprendi a jogar à Bisca, e deitar-me em cima do poço à noite para ver as estrelas. E de regresso, como hoje, hei-de ir visitar as pessoas mais queridas da minha memória, sentar-me junto delas e admirar as flores de plástico, dar-lhes um beijo e saudades, e deixar com elas esse passado até à próxima vez.
inspiração: Val da Couda
29042013
28 abril 2013
cento e dois
Andava sempre sem se preocupar com o seu destino. Deixava que outros pés a guiassem, enquanto olhava para o chão. Brincava com os desenhos da calçada: pisar só as pedras brancas, depois só as pretas, depois um pé sempre nas brancas e o outro sempre nas pretas. De vez em quando, num padrão mais complicado, demorava-se um ou dois segundos e logo sentia uma mão a puxá-la. Olhava para cima por instantes e seguia o jogo. Quando se cansava, olhava em volta. Via pernas e joelhos e, volta e meia, cruzava-se com outro par de olhos bem abertos. E sorria.
A caminho de casa, passava sempre junto a um longo muro cinzento. Por vezes encostava a mão à pedra para sentir a sua textura, mas era sempre repreendida. Numa típica manhã de primavera, daquelas em que o ar ainda fresco e o sol já forte cobrem o corpo com uma ligeira pele de galinha, ela parou subitamente em frente ao muro. A outra mão puxava-a pelo braço mas ela estava ancorada. Os olhos estupefactos e o sorriso a alargar-se até quase lhe ocupar todo o rosto. À sua frente, rompendo a seriedade daquele imenso bloco de pedra, uma pequena flor de pétalas brancas e amarelas sorria-lhe de volta. Com mais um puxão do braço foi obrigada a continuar a sua marcha, mas levou consigo o sorriso que aquela flor lhe deu.
Quando cresceu, especializou-se em botânica.
inspiração: pensar positivo
A caminho de casa, passava sempre junto a um longo muro cinzento. Por vezes encostava a mão à pedra para sentir a sua textura, mas era sempre repreendida. Numa típica manhã de primavera, daquelas em que o ar ainda fresco e o sol já forte cobrem o corpo com uma ligeira pele de galinha, ela parou subitamente em frente ao muro. A outra mão puxava-a pelo braço mas ela estava ancorada. Os olhos estupefactos e o sorriso a alargar-se até quase lhe ocupar todo o rosto. À sua frente, rompendo a seriedade daquele imenso bloco de pedra, uma pequena flor de pétalas brancas e amarelas sorria-lhe de volta. Com mais um puxão do braço foi obrigada a continuar a sua marcha, mas levou consigo o sorriso que aquela flor lhe deu.
Quando cresceu, especializou-se em botânica.
inspiração: pensar positivo
27042013
27 abril 2013
cento e um
os pés enterram-se na areia molhada. a água vai subindo até aos joelhos. até não se sentirem os ossos. gela. dói. até não se sentir mais nada. o vento assobia e confunde-se com o som das ondas. os olhos ao fundo. os pés gelados. o mar nos ossos. uma anestesia para todas as outras coisas.
inspiração: praia
inspiração: praia
26042013
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